Cântico da Queda das Formas
Tudo que existe, um dia se desfaz,
Deixa a moldura, rui o que era paz.
A forma antiga, outrora imponente,
Transforma-se em sombra, silêncio latente.
Eterna é a dança da transmutação,
Onde até deuses perdem o trono e a mão.
O que se ergue em glória, em glória desce,
E o que domina, ao pó enfim regresse.
O "eu" que brada ser mais que outro ser,
Perde sua voz ao se desfazer.
A máscara cai, a carne se curva,
O tempo consome, a essência turva.
O orgulho — chama breve do vazio —
Arde, depois sucumbe ao próprio frio.
O narcisismo, espelho de ilusão,
Estilhaça ao toque da mutação.
Potências vastas, reinos sem medida,
Não escapam à queda já contida.
Tudo que sobe, a Terra há de chamar,
E ao ventre antigo há de retornar.
Nada há de eterno, salvo o momento
Em que se move o eterno movimento.
Não o que é fixo, mas o que se esvai
É que revela o que de fato vai.
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