A QUEM DEVEMOS AMAR

    Na vida, passamos por momentos em que só queremos deixar tudo, largar as cordas daquilo que nos mantém vivos, cortar a teia da existência que incessantemente nos prende. Podemos, talvez, acreditar que o sol não voltará a brilhar, que lágrimas nunca mais cairão. Mas quem realmente sabe o que o tempo nos reserva para fazer de nós?

    Há homens que marcam, outros que sangram seus cadáveres; que sofrem, gemem e só desejam, em seu mais íntimo, amar, ser amados, sentir-se unidos com a grandiosidade da eternidade. Quem dera ter tantas lágrimas para deixá-las por onde passei... Eram tantas lembranças, tantos sonhos. Hoje vejo que sonhos não passam de pequenos consolos que fazem o homem esperançoso levantar-se, tomar um banho e encarar cada ação inevitável que aparecer.

    Deixem os mortos recaírem ao chão, mas não permitam que caiam antes de encontrarem o verdadeiro sentido de suas vidas. O que realmente levará o homem ao seu precipício não é o desejo da morte, mas a sincera vontade de encontrar-se com o suspiro de Deus, que aquece o puro desejo pela vida. Despedaço-me em quereres, em desamores, em momentos reais, pois viver intensamente não é usar, não é consumir, não é machucar. E, diante de todo o sofrimento, sentir compaixão, é descer ao íntimo do seu melhor amigo.

    Não peço a Deus muito tempo de vida, nem que seja repleto de riquezas de sal. Quero sentar-me em dias frios, diante de um anoitecer quase sem luz, a ouvir uma voz feliz, enquanto rimos do passado, das dificuldades, das dores e dos desamores. E, naquele pequeno momento, partir sorrindo, junto de quem realmente quer estar comigo.

    A morte, meu caro amigo, é o nosso momento de gritar à vida todo o nosso respeito, alegrando-nos pelo tempo que se consumiu num piscar de olhos. E, na minha humilde opinião, é o nosso momento de eternidade.

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