CARTA AO FIM
Depositei verdade naquilo que acreditei ser o mais autêntico em mim, aquilo que meu coração tanto deseja realizar em suas entranhas. Enquanto caminhava, perdi-me na ânsia de responder com clareza ao que transbordava do meu íntimo.
Não sei onde está meu coração, nem consigo encontrar a paz para seguir em frente. Não me sinto só, mas sinto que choro sozinho, guardando as facas que, pouco a pouco, transpassam as lembranças dos momentos em que acreditei saber quem eu era.
Entreguei minha vida como nunca imaginei. Desci ao coração de tantas pessoas, sanei e curei feridas profundas, mas quem quis cuidar das minhas? Abandonado, meu espírito foi perfurado pela lâmina do soldado. Naquela noite, sofri como nunca; não dormi, nem encontrei abrigo. Será que Deus se esqueceu?
Na desolação repousa aquele que um dia acreditei ser. Hoje, quem me dera deitar-me no túmulo dos meus avós e chorar como a criança que, nos momentos de medo, corria para os braços do calor isento de culpa.
Ninguém ouviu meus gritos, nem tiveram tempo de perceber meus ossos se partindo. Somente o tempo pode devolver a esse homem o reencontro com o brilho.
Que essa imensidão me consuma no tempo oportuno, para que, pouco a pouco, se despedace meu corpo no gélido caixão da minha fúnebre existência. De uma única coisa me arrependo: de ter acreditado tanto em tantas pessoas que só queriam encontrar a si mesmas.
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