CARTA AO DESESPERO
Já é tarde para esperar ser amado. Há muito tempo penso que não há nada para mim nesta curta vida. Há você, minha amiga, a quem desejo meu mais sincero suspiro. As pessoas precisam de mim, mas logo depois sinto que já não sirvo; então, o amor se evapora como uma poça de água em asfalto quente. Queria poder dizer que não existem pessoas assim, mas são muitas. Contudo, será somente isso a vida?
Fechei os olhos para nunca mais abri-los, mas não consegui deixar o suspiro de Deus se desfazer em mim. Sobre as águas do oceano, meu espírito planava. No desespero de desconhecer quem sou e o que as pessoas esperam de mim, encontrei-me com o que pensei ser eu. Desfaço as máscaras pouco a pouco para ser quem realmente sou. Com isso, não posso afirmar que agradarei, muito menos que existirei para agradar alguém.
Não tenho como expressar o desespero que sinto, pois desconheço a mim mesmo enquanto construo as partes desfragmentadas do eu. O mistério responde ao espelho do inconsciente, no momento em que a fenda do limite da singularidade conserva a grandeza do ser em mim. Queria poder mostrar a luz que há em suas trevas, o quanto de Deus há no desespero de seus pensamentos, e o quanto de amor existe em você, ao mesmo tempo em que é amada, mesmo não sendo ouvida.
No silêncio da noite repousa em pensamentos intrusivos que fazem você querer deixar tudo, desesperar-se na escuridão da vida. Mas por que amar tanto a dor? Ela faz você sentir-se viva, ou é apenas um consolo para o medo de se arriscar a amar? O tempo está correndo; o existir já é, mesmo que você não queira amar e ser amada. Você é tocada pelo sol em um dia frio.
Ouço o grito ao precipício, percebo as lágrimas que caem no silêncio do vazio, sinto a falta que traz no peito e me consolo no amor por mim mesmo, no amor pelo divino e na sensação do infinito. Quem pode dizer que a vida é apenas existir para o outro, se não for o encontro na relação sincera do eu-tu? Amar é sofrer calado e ouvir atentamente. É se lançar no improvável amado, que, desconhecido, se revela no mistério.
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