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O Amor do Vazio

Há um instante na vida em que o sentido se dissolve. Na dúvida que se ergue, tentando acertar a direção, surge o apavoro. A angústia quer mover o coração, mas ele pulsa sem rumo. E, quando o caminho se perde, no brilho sombrio encontramos o amor do vazio. O vácuo entre o real e o imaginário é um corte, uma junção de temores que molda o espírito em Prometeu, prisioneiro de sua própria liberdade. O desejo de mudança parece chama eterna, mas é só lampejo — breve clarão antes da repetição das mesmas sombras. Nada no mundo escapa à corrupção dos devaneios, nem aos quereres disfarçados de misericórdia. E quando tocamos o fundo do poço, o destino se vira. Não é retorno — é travessia ao seu oposto. Basta ao homem um único suspiro, antes que, por um beijo, ele se perca no doce e irremediável devaneio.

Cântico da Vida Persistente

Mas o que seria eterno, senão a ilusão? Tudo é passageiro, neblina e chão. O início? Apenas um fim disfarçado, Com hora marcada, destino traçado. Pensamos ter o tempo em nossas mãos, Mas ele escapa como grãos vãos. A consciência revela — o fim não cessa, É um contínuo ciclo, que nunca adormece. O amor, semente em solo profundo, Persiste, molda-se ao giro do mundo. Mas as relações, frágeis como o vento, Nem sempre resistem ao esquecimento. Se o amor se curva ao tempo que gira, Pode o homem perder sua própria mira. E resta, então, a única certeza: A vida, em sua eterna natureza. Pois mesmo quando cessa o respirar, Ou as folhas se recusam a dançar, A vida segue, em forma ou em ausência, Persevera além da consciência. A vida é sopro que se eterniza, Movimento sutil que se imortaliza. É o que há no instante contido, Na eternidade de um gesto vivido.

Cântico da Queda das Formas

Tudo que existe, um dia se desfaz, Deixa a moldura, rui o que era paz. A forma antiga, outrora imponente, Transforma-se em sombra, silêncio latente. Eterna é a dança da transmutação, Onde até deuses perdem o trono e a mão. O que se ergue em glória, em glória desce, E o que domina, ao pó enfim regresse. O "eu" que brada ser mais que outro ser, Perde sua voz ao se desfazer. A máscara cai, a carne se curva, O tempo consome, a essência turva. O orgulho — chama breve do vazio — Arde, depois sucumbe ao próprio frio. O narcisismo, espelho de ilusão, Estilhaça ao toque da mutação. Potências vastas, reinos sem medida, Não escapam à queda já contida. Tudo que sobe, a Terra há de chamar, E ao ventre antigo há de retornar. Nada há de eterno, salvo o momento Em que se move o eterno movimento. Não o que é fixo, mas o que se esvai É que revela o que de fato vai.

Quem é você na minha vida?

     Ou melhor: quem são essas pessoas que aparecem em nossas vidas e fazem morada? É complicado querer explicar. Talvez seja melhor considerar que são como fotografias — lindas, em sua melhor expressão. Não por serem perfeitas ou repletas de filtros, mas por registrarem momentos únicos e, por isso, serem também únicas.      Muitas vezes levamos um solavanco na caminhada. Então, voltamos, olhamos as memórias… e encontramos pessoas como você na minha vida. Pessoas que me fazem acreditar, mesmo quando sinto que cheguei ao limite. Pessoas que me mostram que até a distância pode dar um motivo e um sentido para toda a saudade.      Uma mulher me levou ao amor pela vida a um patamar que eu nem sabia que poderia me permitir alcançar. Considerando toda a minha falta de atenção aos detalhes e ao reconhecimento, foram noites — entre tantas noites — em que ela me esperava só para, mesmo que por um breve momento, ouvir a minha voz. E, de maneira carinh...

TRISTEZA

      A quem queira acreditar que a tristeza limita-se a um estado de momento, em que deixa-se sentir e abater-se com medo e angústias de impossibilidades, contudo um estado de alma é profundamente diferente de um momento de lágrimas.      Amamos tanto a vida que assustamos quando vemos que realmente a realidade não corresponde com a satisfação total, sempre seremos indivíduos cercados pela necessidade, pelo desejo de se fazer vivo, presente em algo que oriente a alma ao seu estado de glória.      Derramamos prantos por todos os caminhos que passamos, enquanto isso caminhamos sonhamos com algo que possa fazer com que toda essa insatisfação faça do momento presente a única resposta, ou será que existe outra coisa que possa ter pós esta vida?      Deixar-se ser conduzido constantemente por uma maré de repetições, respostas construídas, segue sempre as mesmas trilhas, acaba por conduzir as segas por todas as direções, sem nenhuma ...

AMOR

    Há  de acreditar que tudo é passageiro, o homem ingênuo. Mas raramente compreende o que é o tempo — ou a consciência dele — é condição daquele que prevê. Seria dado a outra criatura o dom de antever a própria finitude?      A nenhum ser é concedida tal graça: assistir à vida passar e nela depositar a ansiedade da partida. Ó doce vida — tarde te amei, e em ti ardi com o mais intenso dos desejos.      Houve um tempo em que entreguei todas as minhas forças ao querer. Joguei damas com meus ossos, ofereci meu corpo como tabuleiro, enquanto depositava num instante só o empenho de mil homens mortos.      Há tanto por dizer — e, no entanto, quase nada conduz à clareza ou se atreve a nomear o que importa. Amar, afinal, não se limita ao tempo: ele resiste em forma de lembrança, vive na continuidade silenciosa dos gestos, nas pegadas do palhaço que sorri ao cair.      O sentimento ergue e destrói muros invisíveis. Revel...

V

     Quando esperamos nos unir ao universo em extremo brilho, encaixamos as peças que compõem a história das vidas passadas, das lágrimas deixadas como alimento, que regam como orvalho os espinhos e carregam tanta dor quanto quem vos escreve. Há muitos modos de deixar a vida passar e, ao mesmo tempo, o impulso de acabar com ela, em um mundo de humanos onde animais têm maior valor que outros indivíduos. Quem sabe, cantando ou dançando, possamos mostrar ao pó estelar a diferença entre cada coisa. Contudo, seremos sempre a mesma poeira levada pelo vento do destino.      Queira ou não, controle suas lágrimas com sorrisos que fazem todos sentirem sua presença como a de uma pessoa normal, como um grãozinho de areia. Mas nunca se esqueça de que existe em você um cristal forjado por sentimentos intensos e verdadeiros. Ninguém merece sofrer os seus sofrimentos; merecem, sim, a beleza da sua vida como testemunho de que há sentido em viver. Não há como provar o sabor ...