AOS MORTOS QUE DESCANSEM

    Ao mundo, minha imensa alegria por fazer parte de uma grandiosidade inexplicável: uma existência que corre entre carros, humanos, demasiadamente humanos, que falam, contam vantagens e incessantemente reafirmam como suas vidas são tão importantes. Aos meus olhos, não passam de animais perdidos.
    A consciência da realidade é o seu maior fardo, algo que tentam superar incessantemente com valores insignificantes, supervalorização de imagens e de seus próprios rostos refletidos em espelhos quebrados. Por vezes, queria ter um deus a quem pudesse entregar toda a inconsistência do meu simples respirar, ou que respondesse às dúvidas que assombram meus pensamentos.
    Cantando aos ventos, via mulheres belas passando com olhares distantes. Sorriam, tentando sobreviver à pressão externa de uma beleza que ignorava suas interioridades, enquanto eu me deliciava em observar meu ser incomum.
    Havia homens que sonhavam em fazer do planeta uma casa comum, mas, em sua pequena inocência, apenas alimentaram o egoísmo de poucos, que consomem vorazmente antes que tudo arda em fogo eterno.
    A morte não é o pior dos males; é apenas parte do ciclo da existência. Não há como negar o fim. O caminho é estar em busca de descanso. Há quem diga que tudo vale, que viver é perpetuar um poder. Que seja, então, enganar o fim.
    Os processos da vida trazem dor e lágrimas, mas são necessários para que tenhamos coragem de recomeçar. Há humanos que dizem ser capazes de viver sem vínculos, de abandonar quem amam. Quem dera fosse verdade.
    Aos mortos, que descansem. E aos vivos, que esqueçam a finitude e amem o fim. Aos que nos fizeram sofrer, e àqueles que ferimos. Que seja o amor a única moeda capaz de curar as feridas profundas e a verdade a única certeza capaz de levar o homem a sua humanidade.

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