CARTA AO DEMÔNIO DA MEIA-NOITE
Aquém devo escrever? Por que devo me importar com coisas tão pequenas como o amor por outra pessoa, ela não passa de um nada que morrerá provavelmente antes do que eu, não intendo por que, tanta dor em palavras que são faladas ao vento. Aos demônios que andam sobre a terra, dedico minhas palavras mais intimas do dia de hoje. A todo grito de lamento fico a pensar o que leva o mundo a tanto sofrimento, a cada despedaçar-se do coração, vejo o mundo perdendo-se naquilo que nem sabe o que realmente é.
Caro demônio da meia-noite, aonde você está hoje? Quem sabe esteja possuindo uma menina solitária, ou tirando o pão de uma criança faminta, ou ainda encima de um prédio provocando uma pessoa a seu suicídio, quem sabe esteja ao meu lado sussurrando ao meu ouvido essas palavras. Percebe quanto sofrimento que você provoca? As inúmeras lágrimas que faz cair? Não foi você que queria ser igual a Deus? Deus não é amor?
As trevas estão sobre a terra, Deus está morto, e nós o matamos, o sacrificamos por nossas vontades, em busca de podermos fazer sobreviver nossas verdades. Quem pode matar o outro? Se haver um Deus que seja amor, me leve solidão a conversar com ele, gostaria de saciar as duvidas que carrego como diamantes. Quem dera então poder questionar os demônios, já que eles são capazes de tudo, para sangrar uma alma. Demônios onde estão? Deus está morto, qual será seu objetivo agora, ou morreram junto com ele? As pessoas que vejo partindo, as mesmas que caídas pelo chão rastejam como vermes, minhas singelas lágrimas.
Os demônios estão mortos, não atormentam um espirito já morto, não há um deus que grite por amor, só existem pessoas que amamos, amores que não desejamos perder, mas que fingimos não amar, para não sofrer com a partida. Querido demônio criado pela falta de coragem de assumir minhas atrocidades, obrigado por ser a vaquinha do presépio que assume todas as culpas dos pensamentos desordenados que possuo, há você minhas lagrimas de misericórdia.
E a você amor de minha vida, não há dia que não pense em você, não a momento que não questione o significado da vida, por que então, desprezar a vida? Junto ao monte construí uma tenda para nós, lá não temos demônios, nem sequer deus, somente eu e você. Um mundo onde o amor está para além do querer, onde as flores cheiram a dor da vida, onde a terra mostra seu fim, onde o homem não carrega o peso da eternidade, onde a mulher alimenta seu filho na esperança da sua finitude. Tudo brilha na escuridão, tudo convive com o fim, não há deus, não há demônios, somente eu e você.
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