CARTAS DE UM HOMEM AO SEU PRECIPÍCIO

     Houve um tempo em que eu desejava estar entre todos, ser reconhecido, aceito. Mas, com o tempo, percebi que esse esforço só me desgastava e, no fim, o único prejudicado era eu. Agora, o que resta dizer? Os anos passarão, os sonhos continuarão a me alimentar a cada queda, e o sol sempre voltará a nascer. Que o tempo, então, consuma apenas aquilo que não faz parte da minha verdade.      São olhares e palavras que se entrelaçam, histórias que seguem caminhos que não escolhi.     Veja, eu poderia dizer muitas coisas para consolar sua vida, mas o que realmente posso fazer é ajudá-lo a perceber: nada é exatamente como desejamos, nem carrega uma validade que dure além do instante. Na substância finita da vida, há um paradoxo que a torna infinita.      Deixe a chuva cair, permitindo que leve as lágrimas, cure as feridas e traga leveza ao espírito que anseia por viver. Não prenda sua vida em um "talvez". Faça da inconsideração a realida...

     Ao caos que opera na serenidade do cosmos, que o vento sopre em direção à união dos corpos. Cada sol, ao amanhecer, une-se em sintonia com a grandeza da vida, seja a contida em uma pequena abelha ou na enorme nuvem que carrega a chuva de verão. Tudo caminha em direção à consolação eterna!      Com os contos e cantos dos antigos, o universo vai se adentrando na imensidão da solidão e vastidão da criação, da imaginação de uma população, todos donos e deuses de si mesmos. Gritam pelo brilho, pelo calor dos corpos, pela linha tênue do ser.      Olhos abertos, ventos a tocar, como a luz do navegante no mar, brilhamos na escuridão, pelo breve tempo em que somos considerados pessoas. Humanos, animais que despedaçam seus corpos, corrompem seus filhos, desfazem a união com a natureza — ouçam o suspiro.      A cura da morte está em aceitar a vida, o valor da natureza é ser parte dela, é ser como a poeira dos pés, a união com a escur...

     Porém, se dizes que irás vir às duas horas da tarde, desde as cinco da manhã me preparo para receber-te.      Considero os minutos, levo em conta tudo o que pode acontecer e como será esse momento convosco, pois nada do que imagino deixa de ser um instante eternizado na união.      Há quem queira considerar loucura amar desse modo, quem diga ser uma doença, mas vejo como a ansiedade de querer acolher entre os braços o pouco de vida que ainda resta em mim.      Sonhar perder é apenas sentir junto ao peito a falência do ar...      Não há tempo ou vida suficiente que faça curar as feridas, mas há amor suficiente para recomeçar!